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31/01/2012 - 06h30

Carlos Machado diz que público quer que Baltazar seja amante de Crô como "punição"

Carla Neves
Do UOL, no Rio

“Você está muito malvado!”. Essa é a frase que Carlos Machado, intérprete do Ferdinand de “Fina Estampa”, diz que mais tem escutado desde que seu personagem começou a executar as maldades arquitetadas pela vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni). Segundo o ator – que também é dentista e abriu seu consultório de ortodontia para o UOL – muitos planos diabólicos bolados pela madame ainda estão por vir. “Posso adiantar que, mesmo sendo ‘do mal’, o Ferdinand vai se surpreender com um pedido da Tereza Cristina. Ele vai se recusar a fazer o que ela vai pedir”, contou.

O ator, de 46 anos, também falou sobre a possibilidade de seu personagem ser o outro amante de Crô (Marcelo Serrado). "Tem sentido o Ferdinand ser amante do Crô por ele ser altamente homofóbico. Ele tem o estereótipo de macho e quer preservar isso. Ao mesmo tempo, acredito que o público quer que o amante seja o Baltazar [Alexandre Nero]. Acho que muita gente pensa: 'tomara que o Baltazar seja o gay, porque ele bate em mulher'. Como se ser gay fosse uma coisa muito ruim. Seria quase como uma punição", argumentou.

Sentado na sala de seu consultório na zona sul do Rio – onde costuma trabalhar três vezes na semana –, Carlos contou que após pedir a Ferdinand para matar Amália (Sophie Charlotte), Quinzé (Malvino Salvador) e Antenor (Caio Castro), Tereza Cristina vai pegar mais pesado ainda. “Ainda não posso adiantar detalhes sobre a cena, mas o Ferdinand vai ficar muito surpreso com a maldade da Tereza Cristina”, afirmou ele, que também falou sobre o crescimento do personagem na trama das nove da Globo. “O Ferdinand ia morrer. Então, ler três meses depois que o Aguinaldo [Silva] tinha reconsiderado a morte dele porque foi surpreendido por mim foi maravilhoso”, elogiou. Leia, a seguir, a entrevista completa:


UOL – Além de ator, você também é dentista. Qual carreira surgiu primeiro na sua vida?

Carlos Machado – Desde os 14 anos, trabalhei como modelo e fui atleta. Aos 20, vi que não ia ganhar dinheiro com o esporte, aí parei com o voleibol, que foi ao que mais me dediquei durante a adolescência. Mas, nessa época já trabalhava como modelo e sempre tive vontade de ser artista. Só que eu era muito tímido. Muito mesmo! Daqueles que você falaria assim: "nessa sala de aula, desses cem alunos, aquele ali é o que menos tem chance de ser ator, pela timidez". Depois vim a descobrir que a maioria dos atores é tímida, que aprendem a perder a timidez em cursos e acabam descobrindo que têm talento.

UOL – E você descobriu seu talento?

Eny Miranda/UOL
Tem sentido ele [Ferdinand] ser amante do Crô por ele ser altamente homofóbico. Ele tem o estereótipo de macho e quer preservar isso. Ao mesmo tempo, acredito que o público quer que o amante seja o Baltazar [Alexandre Nero]. Acho que muita gente pensa: "tomara que o Baltazar seja o gay, porque ele bate em mulher". Como se ser gay fosse uma coisa muito ruim. Seria quase como uma punição.

Carlos Machado, ator e dentista

Carlos Machado – Hoje em dia, acredito que todo ser humano tem talento para representar. Porque o ser humano tem o dom ímpar de mentir, como nenhum outro animal na face da Terra. E ser ator é isso: é mentir diante das câmeras. O que a gente precisa é aprender a ter intimidade com as câmeras e com o palco para aprender a fazer isso bem feito. A gente mente muito bem em casa, para quem a gente tem intimidade. Depois que você pega intimidade com o palco e com as câmeras, você também passa a mentir bem também diante desses veículos.

UOL – Então você sempre exerceu a profissão de ator em paralelo a odontologia?

Carlos Machado – Na verdade, fui fazer odontologia porque sempre achei que a profissão de ator é difícil. E hoje tenho certeza disso. Sempre quis ter um porto seguro, uma profissão que me autossustentasse e me permitisse “brincar” com a profissão de ator. E isso aconteceu. Me formei em odontologia em Bragança Paulista, São Paulo. Depois de formado, entrei para a Força Aérea Brasileira. O sonho de ser artista estava meio adormecido. E como tenente da aeronáutica, a princípio, trabalhei em Barbacena e depois fui para o Rio de Janeiro, para a base do Galeão. Trabalhava meio expediente, quatro vezes por semana. A princípio, não montei consultório no Rio. Comecei a estudar teatro, em 1994. Em 1995, já tinha o meu registro profissional de ator.

UOL – E como foi sua entrada na TV?

Carlos Machado – Na primeira semana já me indicaram para um teste com o Chico Anysio e comecei a trabalhar com ele no programa “Chico Total”. Ele foi meu primeiro mestre, me ensinou a ser escada no humor. Nesse meio tempo, fiz minha primeira novela, que foi “Mandacaru”, com Walter Avancini, na Manchete. Depois voltei para a Globo para fazer “Labirinto”, de Gilberto Braga. Depois de “Labirinto”, fiz muitas participações. Cheguei a protagonizar um “Você Decide”, que se chamava “O Príncipe da Feira”. Era o personagem-título e contracenava com o Lima Duarte, que fazia um gay. Fiz participações em “Força de Um Desejo”, “Uga Uga”, “Kubanacan” e “Duas Caras”. Mas, sem dúvida, “Fina Estampa” é a minha maior oportunidade. Não só por ser um papel numa novela das nove, mas também por ser um personagem muito interessante, diferente.

UOL – Seu personagem cresceu consideravelmente na história. Como você se sentiu ao ser prestigiado por Aguinaldo Silva?

Carlos Machado – Achei fantástico saber que o Aguinaldo gostou do meu trabalho. Porque o Ferdinand ia morrer. Ler três meses depois – quando o personagem já tivesse morrido– que ele tinha reconsiderado a morte do Ferdinand porque foi surpreendido por mim foi maravilhoso.

UOL – Entre a interpretação e a odontologia, qual é a sua profissão predileta?

Carlos Machado – Encaro a profissão de ator como uma diversão para mim. Para mim é um hobby, uma terapia, apesar de me dedicar de corpo e alma. Coloco como prioridade. Porque não tem nada que me faz mais feliz na vida – em termos de “trabalho”. Já a odontologia é muito diferente. Porque lido com vidas, é necessário ter muita precisão na minha área. Ainda mais com a ortodontia lingual. O estresse é muito maior. Sem falar que já sou dentista há 20 anos. Já estou querendo descansar. Já faz um tempo que tenho vindo ao consultório mais para administrar. Como temos vários especialistas, estou bem coberto aqui.

Eny Miranda/UOL
Hoje em dia, acredito que todo ser humano tem talento para representar. Porque o ser humano tem o dom ímpar de mentir, como nenhum outro animal na face da Terra. E ser ator é isso: é mentir diante das câmeras. O que a gente precisa é aprender a ter intimidade com as câmeras e com o palco para aprender a fazer isso bem feito. A gente mente muito bem em casa, para quem a gente tem intimidade. Depois que você pega intimidade com o palco e com as câmeras, você também passa a mentir bem também diante desses veículos

Carlos Machado, ator e dentista

UOL – Quantas vezes por semana você vai ao consultório?

Carlos Machado – Pelo menos uma vez na semana tento estar presente no consultório porque alguns pacientes são atendidos só por mim.

UOL – Como está sendo o reconhecimento do público?

Carlos Machado – A frase que mais escuto na rua é: "você está muito malvado!" [risos]. Tem gente que já vem apontando o dedo para mim. Mas percebo que é brincadeira. Hoje em dia o público sabe separar o ator do personagem.

UOL – Mas o assédio do público aumentou?

Carlos Machado – No Rio não. Mas outro dia fui participar de um desfile no nordeste e fiquei espantado. Teve um dia que me senti Justin Bieber [risos]. Precisei de um corredor de seguranças para chegar até o carro no local onde participei do evento. E centenas de pessoas fotografando e batendo no carro. Depois que entrei, fiquei até pensando: "vai quebrar esse vidro" [risos]. Essa novela é um fenômeno de Ibope, de retorno.

UOL – Já chegou a levar alguma cantada mais ousada?

Carlos Machado – As mulheres hoje em dia estão mais ousadas do que os homossexuais. Às vezes, estou de mãos dadas com minha namorada [a dentista Flávia Cristine] e escuto umas gracinhas de umas mais ousadas. É engraçado. Mas não considero falta de respeito. Vejo, encaro e levo como uma brincadeira. Dou um sorriso e finjo que não entendo [risos].

UOL – Como você definiria o Ferdinand?

Carlos Machado – Ele é um psicopata. Ele só não chega no nível de maldade da Tereza Cristina. Tem uma cena que li esses dias, que ainda não posso dizer qual é, em que o próprio Ferdinand vai se surpreender com o nível de maldade da madame dele. Porque ele é capaz de atirar pelas costas sorrindo numa enfermeira que ele simplesmente eliminou porque percebeu que sabia demais. Mas, mesmo sendo "do mal", ainda assim, ele vai se surpreender com a Tereza Cristina. Aí você imagina o que ela vai pedir para ele.

UOL – E a relação entre o Ferdinand e a Tereza Cristina? Como você definiria?

Carlos Machado – Para mim, ele é apaixonado por ela. Ou no mínimo quer que acreditem nisso. Ele já disse que faz tudo por ela, já deixou isso claro. E o que ele quer em troca é ela. Então, de alguma forma, tem uma relação doentia nesse sentido.

UOL – Você acha que, por saber demais, o Ferdinand pode ser a próxima vítima da Tereza Cristina?

Carlos Machado – É possível. Porque ele sabe demais! Ele é o que mais sabe. Ou ela vai eliminá-lo, ou ela passa a ser dele. O amor e o ódio andam lado a lado. Acredito que ela odeia o Ferdinand, usa ele só como um capacho. E acredito que ele é apaixonado por ela, mas ele pode passar a odiá-la também. É uma relação louca, que dá muito material para o autor. Não acredito que ele morra já. Acredito que se ele morrer vai ser no final.

UOL – Você acha que ele é o outro amante do Crô (Marcelo Serrado)?

Carlos Machado – Tem sentido ele ser amante do Crô por ele ser altamente homofóbico. Ele tem o estereótipo de macho e quer preservar isso. Ao mesmo tempo, acredito que o público quer que o amante seja o Baltazar [Alexandre Nero]. Acho que muita gente pensa: "tomara que o Baltazar seja o gay, porque ele bate em mulher". Como se ser gay fosse uma coisa muito ruim. Seria quase como uma punição.

UOL – Como você se sente ao fazer as cenas de violência do Ferdinand?

Carlos Machado – As cenas são fortes. Mas me entrego. Acho que todo mundo tem um lado bom e outro ruim. A gente alimenta mais o bom. Somos o que somos por causa disso. Sempre me perguntam se já fiz maldades na vida. É claro que já fiz maldades na vida. Toda criança faz maldade. Criança, em geral, é muito perversa. Quando junta um grupo, então! [risos]. Roubei chocolate quando tinha sete anos de idade e apedrejei um ônibus com amêndoas. Todo mundo teve ou tem um lado mau. É ele que a gente busca para o personagem. Ao mesmo tempo, basta ler os jornais para ter exemplos de muitos malvados.

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